A
fibromialgia é considerada uma das síndromes crônicas mais
dolorosas de nosso tempo, com sintomas que podem afetar seriamente a
qualidade de vida dos pacientes, pois afeta todo o sistema
músculo-esquelético.
O
termo “fibromialgia”, criado em 1976, deriva da conjunção das
palavras “fibro” (fibra ou tecido conjuntivo, em latim) com os
vocábulos gregos “mi” (músculo) e “algia” (dor). Mas só
foi reconhecida como uma doença pela Organização Mundial de Saúde
em 1992.
A
doença é associada a uma grande variedade de sintomas, tanto
físicos, como fatiga persistente e distúrbios do sono, quanto
mentais, como ansiedade e depressão.
Embora
afete apenas uma parcela mínima da população, nos países onde há
um acompanhamento mais próximo dos pacientes, seus efeitos a tornam
digna de análise e atenção da comunidade médica.
O
médico Fernando A. Rivera, da Clínica Mayo de Jacksonville,
Flórida, membro do Colégio Médico dos Estados Unidos e docente da
Escola de Medicina associada à Mayo, revela o que é verdade e o que
é mito sobre esta doença.
O
que é a fibromialgia?
Rivera
– A
definição mais aceita atualmente diz que a fibromialgia é uma dor
generalizada, crônica, no sistema músculo esquelético, devido a um
transtorno do sistema nervoso central na percepção da dor,
ocasionando hiperalgesia e alodinia. Em termos mais simples, a
hiperalgesia ocorre quando um estímulo, que normalmente é doloroso,
provoca uma dor ainda maior no paciente; a alodinia, por sua vez,
significa sentir dor por estímulos que normalmente não deveriam
provocá-la.
A
origem da doença é conhecida?
Rivera
– Até
agora só se conseguiu saber que o surgimento e a intensificação
dos sintomas da fibromialgia podem estar relacionados a fatores
estressantes, tanto físicos quanto emocionais.
Que
percentagem da população é afetada pela fibromialgia?
Rivera
– Em
nível mundial, diz-se que a prevalência está entre 2% e 3%, ainda
que se tenha taxas de 5% a até cerca de 10% em atendimento primário.
Nos Estados Unidos, a porcentagem é similar: em torno de 2% da
população sofre a doença, sendo mais frequente entre as mulheres,
à razão de nove por um em comparação com os homens. Calcula-se
que cerca de 10 milhões de norte-americanos têm fibromialgia.
O
que se entende por dor generalizada?
Rivera
– Em
1990, a Sociedade de Reumatologia dos Estados Unidos definiu “dor
generalizada” como a que ocorre nos dois lados do corpo, esquerdo e
direito, tanto acima quanto abaixo da cintura, além de dor
esquelética axial, isto é, afetando a coluna cervical, a parte
anterior do tórax, a espinha torácica ou a parte baixa das costas.
Além disso, o paciente deve sentir dor em pelo menos 11 de 18 pontos
predeterminados, denominados “pontos sensíveis”, que respondem
dolorosamente quando apalpados. Entre esses pontos, podemos citar a
base do pescoço, o cotovelo, a parte medial dos joelhos próxima à
articulação, e os glúteos.
Que
tipo de toque provoca essa resposta de dor?
Rivera
– Quando
é aplicada uma força aproximada de 4 quilos. Para um ponto sensível
ser considerado positivo à dor, o paciente deve declarar que a
palpação efetivamente lhe causou dor, tendo em conta que “doloroso”
não é o mesmo que “sensível”.
Mas
pode se tratar de um trauma passageiro?
Rivera
– Não
é assim. Pacientes com dor generalizada e sensibilidade em pelo
menos 11 dos 18 pontos e que sentem essa dor por um período mínimo
de três meses sofrem de fibromialgia. O diagnóstico clínico da
fibromialgia também não é descartado se o paciente tem um segundo
distúrbio clínico – como de origem psiquiátrica, que podem ter
efeitos físicos, como crises de pânico, ansiedade, depressão,
anorexia nervosa, hipocondria, etc.
Pode
ocorrer um diagnóstico de fibromialgia, no caso de algum outro
problema?
Rivera
– Em
2010, a Sociedade de Reumatologia dos Estados Unidos concluiu que,
para confirmar o diagnóstico da fibromialgia, o paciente tem que
apresentar três fatores:
a)
Ter um índice de dor generalizada de 7 (em escala de 0 a 19) e
índice 5, em escala de gravidade sintomática de 9 pontos; ou índice
de dor entre 3 e 6, porém com escala de gravidade sintomática de 9
pontos;
b)
Ter tido esses sintomas, na mesma intensidade, por pelo menos três
meses;
c)
Não ter algum outro problema que possa ser a origem da dor. A equipe
médica deve fazer um diagnóstico diferencial, para descartar outras
patologias que possam ser confundidas com a fibromialgia, como a
polimialgia reumática, infecções virais, artrite reumatoide em
fase inicial, déficit severo de vitamina D, tumores cancerosos
malignos, entre outros.
A
fibromialgia tem sintomas associados?
Rivera
– Sim.
Por exemplo, a fibromialgia pode causar embaralhamento do cérebro,
que consiste em problemas de raciocínio e memória; dores de cabeça
ou enxaquecas; hipersensibilidade à luz, aos sons, odores e
temperatura; cólon e bexiga irritáveis; dor pélvica, dor na
articulação temporomandibular (a articulação entre o osso
temporal do crânio e a mandíbula, responsável pela função
mastigatória). Também podem ocorrer náuseas, parestesia (sensação
de adormecimento e formigamento), perda do equilíbrio e infecções
crônicas ou recorrentes, como sinusite ou infecção respiratória
alta, a que afeta o trato respiratório superior (nariz, seios
nasais, laringe, faringe). Outros fenômenos que causam fatiga no
paciente são os distúrbios do sono e a “síndrome das pernas
inquietas”, que é, basicamente, sentir dor nas pernas durante a
noite e fazer movimentos involuntários para tratar de aliviá-la, o
que afeta mais frequentemente pessoas de meia idade e idosos.
Exames
de laboratório podem ajudar o paciente?
Rivera
– Ainda
que não haja biomarcadores específicos para indicar a presença da
fibromialgia, é útil pedir um hemograma completo, que inclua a
velocidade de sedimentação globular e o nível de proteína C
reativa. Esta se eleva quando há inflamação no organismo, ainda
que não haja indicação de sua localização exata. Também convém
pedir outros exames, como teste da função da tireoide, nível da
vitamina D, painel metabólico completo, testes-padrão de detecção
do câncer (antígeno específico da próstata, por exemplo). Um
eletrocardiograma, em caso de fatiga extrema, assim como uma
tomografia articular, se houver suspeita de sinovite, ou seja,
irritação na membrana que cobre as articulações.
Se
um clínico geral suspeita que um paciente tem fibromialgia, a quais
especialistas deve encaminhá-lo, para confirmar ou não o
diagnóstico inicial?
Rivera
– Como
os sintomas são tão variados, já que não há uma causa específica
que desencadeia a fibromialgia, uma vez que não é possível
diagnosticá-la por qualquer método laboratorial e clínico, ou
radiográfico, é necessário dar ao problema um enfoque
multidisciplinar, que inclua informações de reumatologista,
especialista em medicina da dor e também psiquiatra ou psicólogo.
Como
se trata a fibromialgia?
Rivera
– Com
terapia não farmacológica e/ou farmacológica. A terapia não
farmacológica consiste em educar o paciente para melhorar sua atual
condição de vida. Fazer exercícios de baixo impacto (aeróbico,
natação) de forma regular, terapia física e terapia
cognitivo-comportamental. Deve considerar ainda terapias que envolvem
o corpo e a mente, como ioga, tai-chi ou qigong, meditação com
respiração rítmica, terapias complementares, como massagens e
acupuntura, trabalho criativo (arte, música, dança). Em suma, é
preciso fomentar a própria capacidade de cada indivíduo de se
recuperar física e emocionalmente, depois de um efeito contrário,
traumático ou nocivo.
A
terapia farmacológica considera antidepressivos tricíclicos, como
amitriptilina e ciclobenzaprina; inibidores da recaptação da
serotonina e norepinefrina, como duloxetina e milnacipran; inibidores
seletivos da recaptação de serotonina (não há clareza com
respeito a quais; há informações contraditórias); e agentes
antiepilépticos, como pregabalina ou gabapentina, que ainda não
foram aprovados pela FDA (órgão que controla a comercialização de
medicamentos e alimentos nos EUA) para tratamento da
fibromialgia.
Fonte: http://acritica.uol.com.br
Fonte: http://acritica.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário aqui. Ele será moderado e em seguida liberado. Obrigado.