Literatura | Conto | Morando na zona rural.

Sandra é uma menina de 08 anos que sonha sair da roça para cidade grande, ela imagina que lá tudo é belo e mágico, acha que as coisas boas só acontecem na cidade, na roça as coisas são difíceis, não tem brinquedos modernos, nem bonecas que falam. Este é o pensamento da menina, sua mãe sempre diz que na cidade a vida é complicada pois tudo é pago diferente da roça, Suellen acha que sua filha sente falta de meninas para brincarem juntas, resolveu deixar a menina ir na casa da vizinha Pâmela brincar com suas filhas Polyana e Patrícia, as três brincavam sempre a partir da aquele dia. As mães Suellen e Pâmela sempre se encontravam para falar do catecismo que elas dão para as crianças da comunidade onde vivem na zona rural, tem muitas crianças e famílias inteiras que dependem das duas mulheres tanto para o catecismo como para as celebrações que tem na capela de Santa Luzia. Elas trabalham ensinando e ajudando nas tarefas escolares que muitas vezes os pais não sabem ou não tem tempo para ajudar, todas as tardes a criançada que formam um grupo de 17 crianças frequentam a escola que o dono das terras o senhor Tomé fez na comunidade, a professora é Liza que vem de segunda a sexta ela mora na cidade vem de moto.
    Sandra não cansa de pedir a seus pais para se mudarem, a resposta é a mesma não podemos, estamos bem aqui temos trabalho, e moradia, ganhamos nosso dinheiro trabalhando duro na lavoura, mas é o que sabemos fazer, vamos viver de que na cidade grande, não temos estudos suficiente para conseguir um bom trabalho, além do que filha se mudar lá ficaria presa, não poderia sair e brincar com as amiguinhas como aqui, tem muitos perigos na cidade que você nem imagina. A menina está com ideia fixa, sempre questionando os pais e as amiguinhas, aqui não temos bonecas que falam, nem bicicletas para andarmos, nossas bonecas são feitas de sabugo de milho vocês já viram sua mãe fazer, ela faz estes vestidinhos para o sabugo, e nossas bicicletas são carrinhos de rolimã ou pernas de pau feitas com bambu, eu cansei disto quero ir embora deste lugar. Seu pai Antoniel estava perdendo a paciência com a filha, ela estava muito rebelde, eles faziam tudo que podiam, resolveram pedir ajuda para Liza, por favor professora tente tirar essa ideia da cabeça dela, foi quando tiveram uma surpresa, ela disse as crianças se uniram estão atormentando todos os pais, eu estou preocupada eles não falam outra coisa, querem se mudar acham que terão vida de princesas na cidade grande, vejam os trabalhos que pedi para fazerem, todos são um caminhão carregando a mudança de seus pais. Antoniel voltou para casa desorientado quem poderia estar plantando esta ideia na cabeça das crianças, depois de falar com os pais dos outros meninos tomaram uma decisão, iam descobrir quem estava por trás da ideia. Polyana sem querer escapou para sua mãe o senhor Tomé ontem perguntou que dia vamos mudar para cidade, calada a mulher procurou o marido que foi até a casa do amigo Antoniel, já sabemos que o dono das terras é que está plantando esta ideia na cabeça das crianças, mas por que? Vamos falar com ele hoje à tarde, terá que nos explicar, nossas crianças estão nos deixando loucos com essa ideia fixa.
     No fim do dia o dono das terras chegou trazendo as crianças da escola havia dado carona em sua picape, os homens convidaram a tomar um café, abordaram o assunto e viram o homem se estressou tanto pressionaram que acabou ouvindo o que não acreditariam se soubessem por terceiros, o fazendeiro disse, isto mesmo estive falando com os moleque sobre ir pra cidade grande assim vocês mudariam daqui sem precisar pagar o tempo de casa de cada um, são muitos moradores e as lavouras não estão dando lucros, os bois estão em baixa, preciso vender muitas cabeças para conseguir o pagamento em dia, acha que este dinheiro que pago a vocês vem de onde, repararam que as plantações de arroz tomba morro deu muito pouco, o milho que colhe  mal dá para ração do gado, então vocês pedindo pra sair não pagaria nada, eu não estava dispensando, entenderam bem. Sim entendemos, mas não é justo sairmos assim de mãos abanando, são mais de 10 anos trabalhando duro nestas terras, são 17 famílias que dependem do senhor para viver, não pode fazer isto conosco. Tanto posso que vou fazer, terei que dispensar alguns de vocês, Sandra ao ouvir a conversa correu a seu pai chorando disse, por favor papai, não se mude, eu quero ficar não sabia da crueldade de Tomé, eu queria ir por que ele disse que compraria uma boneca que anda e fala para mim, mas eu não quero bonecas, nem bicicletas eu tenho minhas amigas e minha família, entendeu senhor Tomé. Depois de algum tempo Antoniel teve que deixar a fazenda e migrar para a cidade grande para tristeza de sua filha que agora vive presa em casa e não tem bonecas nem bicicleta, apenas um sonho de um dia poder voltar a morar num lugar tranquilo onde se dorme de portas abertas e se come broa de milho a qualquer hora do dia.  
Texto escrito por Luzia Couto. Direitos Autorais Reservados a autora. Proibida a cópia, colagem, reprodução de qualquer natureza ou divulgação em qualquer meio, do todo ou parte desta obra, sem autorização expressa da autora sob pena de violação das Leis Brasileiras e Internacionais de Proteção aos Direitos de propriedade intelectual.


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